Pesquisa realizada por Paula Stapenhorst França faz constatações que poderão ser aproveitadas por cooperativas do setor elétrico brasileiro

Em 2 de maio, Paula Stapenhorst França, 27 anos, filha de um casal de certajanos, apresentou com louvor sua dissertação de mestrado com o tema “Custo de Capital das Permissionárias de Distribuição do Setor Elétrico no Brasil” na North Carolina A&T State University, localizada no estado da Carolina do Norte, no município de Greensboro, Estados Unidos.
Engenheira de produção graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em agosto de 2015 Paula mudou-se para os Estados Unidos para cursar Mestrado, concluído em 14 de maio, sob orientação do Prof. Dr. Eui Park, Ph.D. em Engenharia Industrial.

Após tomar ciência de que as permissionárias dos serviços de distribuição de energia elétrica estavam tendo dificuldades para viabilizar seus investimentos na expansão do sistema elétrico, em decorrência da metodologia de revisão tarifária definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, a pesquisadora dedicou-se a estudar os diversos componentes do custo de capital da CERTAJA, com base nos dados financeiros do ano de 2015 da Cooperativa.

EXPANSÃO – Assim, Paula calculou o custo de capital necessário para que a Remuneração do Capital, que compõe as tarifas da Cooperativa, pudesse cumprir sua finalidade de gerar os recursos requeridos para realização de obras de expansão do sistema elétrico. Analisou, também, o impacto nas tarifas dos cooperados da CERTAJA ao se utilizar este custo, ao invés do custo de capital regulatório atualmente adotado.

Outro aspecto da pesquisa é o desenvolvimento de uma ferramenta para testar alternativas que permitam à Cooperativa realizar todos investimentos requeridos com seus recursos atuais, caso não seja possível adotar o custo de capital necessário calculado.  “As alternativas consideradas no trabalho foram mixes obtidos com a utilização de partes dos recursos tarifários originalmente destinados à manutenção do atual sistema elétrico e à redução do custo operacional”, pontua.

DIFERENÇAS – De acordo com Paula, existem grandes diferenças entre a regulação do setor elétrico brasileiro e americano. Em termos gerais, a maior diferença é que a regulação americana é muito menos centralizada do que a do Brasil. No Brasil, a ANEEL regulamenta as atividades de todas empresas do setor elétrico, e os parâmetros envolvidos nos cálculos de revisão tarifária são definidos de forma unificada para todas cooperativas do país. Já nos Estados Unidos, existem diferentes níveis de regulação: algumas empresas, por exemplo, não têm nenhum tipo de regulação. As empresas, no geral, são mais independentes e tem maior poder de decisão sobre aspectos relacionados ao reajuste tarifário.

O orientador da pesquisa realizada por Paula, Dr Park, em entrevista exclusiva para o Certajano, reitera que “uma das maiores dificuldades encontradas neste trabalho foi obedecer a forte regulação exercida pelo governo brasileiro. Por exemplo, na empresa americana Duke Power, as revisões tarifárias podem ser requeridas em qualquer ano, e cada estado tem políticas diferentes”. E acrescenta: “Isso é diferente do que acontece no Brasil, onde há apenas uma empresa controlando todas distribuidoras de energia elétrica de maneira unificada. Além disso, há uma diferença na determinação da tarifa ao consumidor. A fórmula para esse cálculo deveria ser mais flexível, e menos baseada em médias das empresas do setor”.

O Prof. Dr. Policarpo deMattos, também professor da Universidade North Carolina A&T State University, PhD em Engenharia Industrial e um dos arguidores da banca de avaliação da dissertação, assinala que “as cooperativas permissionárias são as empresas que irão estimular as regiões rurais onde atuam. Porém, este estímulo está condicionado a um modelo de tarifa criado pela ANEEL para que se estabeleça uma tarifa justa, permitindo a prestação de serviços adequados ao consumidor e uma remuneração também adequada para as permissionárias”. Contudo, ele frisa que este modelo necessita de “sérias revisões para acomodar os novos desenvolvimentos nas áreas rurais que requerem maiores investimentos pelas permissionárias. ”

Ao ser questionado a respeito das diferenças entre o sistema elétrico americano e brasileiro, Dr deMattos salientou que “nos EUA, cerca de 90% da eletricidade é produzida por usinas térmicas, a carvão, gás natural e usinas nucleares. No entanto, no Brasil, a eletricidade é gerada principalmente por energia hidrelétrica, e menos de 10 % da eletricidade é gerada pelo vento, biomassa e energia solar”. Ele disse que acredita que a diferença na produção de energia determina o sistema ideal, que, no caso do Brasil, é mais propício para um operador central, por causa de suas usinas hidrelétricas.

AVALIAÇÃO – Questionado pelo jornal Certajano acerca do trabalho apresentado por Paula Stapenhorst França, Dr deMattos frisou que “o modelo sugerido durante a apresentação da dissertação faz muito sentido. O trabalho de Paula pode ser muito benéfico para as cooperativas no futuro, porque ela forneceu sugestões alternativas para que as empresas consigam realizar os investimentos necessários com a remuneração atual, ” afirmou.

Paula agradece à CERTAJA, em especial ao presidente Renato Martins, por permitir que a Cooperativa fosse objeto de seu estudo, ao gerente comercial Enoque Garcia, que lhe disponibilizou planilhas contendo dados importantes e sempre se colocou à disposição para auxiliar, bem como a todo setor contábil e financeiro.

O trabalho também foi apresentado no ISERC –  Industrial and Systems Engineering Research Conference (Congresso de Pesquisa de Engenharia Industrial e Sistemas), realizado em Los Angeles, Califórnia, USA, no dia 24 de maio.

Dr Park, Paula e Dr deMattos