Entrevista especial com Ederson Madruga, vice-presidente da CERTAJA Energia

Como a chance de racionamento é remota, o maior impacto está sendo e será o aumento dos custos, pois as bandeiras tarifárias continuarão em níveis elevados para cobrir esta geração térmica adicional”. A declaração é do vice-presidente da CERTAJA Energia, Ederson Madruga, doutor e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, graduado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS em entrevista ao Certajano, jornal da Cooperativa. A importância do acordo de compra de energia elétrica no Ambiente de Contratação Live para os próximos 17 anos, realizado pela Cooperativa a fim de compor uma tarifa menor para os associados merece destaque. Isso porque, se tal negociação não tivesse ocorrido, “o cooperado estaria com a conta final mais alta”.

Confira a entrevista completa.

Certajano – O Operador Nacional do Sistema – ONS afasta o risco de apagão elétrico até o final de 2021. Entretanto, qual é o cenário que se delineia para 2022? 

Ederson Madruga – Enfrentamos a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, o que nos impacta diretamente no valor pago através das bandeiras tarifárias, cujo objetivo, é cobrir os custos extras de geração de energia, não previstos nas revisões tarifárias. Não há perspectiva de chuvas que reestabeleçam os reservatórios aos níveis adequados, conforme prognósticos, porém, o risco de racionamento é extremamente baixo. Para termos esta segurança, a geração através de usinas térmicas continuará em 2022, o que nos indica a manutenção ou aumento das bandeiras.

Certajano – Qual a origem e a situação atual da crise hídrica vivenciada no Brasil?

Ederson – O Brasil, apesar de possuir a maior matriz energética hídrica do mundo, adotou como critério o de não construir usinas com barragens, ou seja, com capacidade de armazenar altos volumes de água. Desta forma, em períodos de estiagem, como o que vivemos, não é possível parar a geração hídrica e armazenar água, enquanto geramos através de outras fontes como solar ou eólica. Isto faz com que a geração térmica, que podemos controlar efetivamente, seja a alternativa para complementar as gerações com déficit ou as que não podemos controlar (estocásticas).

Certajano – Quais os principais impactos da crise hídrica, em termos regionais e nacionais?

Ederson – Como a chance de racionamento é remota, o maior impacto está sendo e será o aumento dos custos, pois as bandeiras tarifárias continuarão em níveis elevados para cobrir esta geração térmica adicional.

Certajano – Qual a relação da crise hídrica com o aumento dos valores cobrados a título de bandeiras tarifárias?  Poderia explicar como funciona o mecanismo das bandeiras e qual a sua relação com os preços praticados pelas distribuidoras de energia?

Ederson – No processo de definição das tarifas para os consumidores, a energia fornecida faz parte da chamada Parcela A das tarifas, esta parcela passa integralmente ao consumidor, ou seja, as distribuidoras repassam o valor integral, sem qualquer adicional, da energia adquirida ao consumidor. Como a energia está sendo gerada a partir de uma fonte mais cara, não prevista no processo tarifário, as bandeiras servem para cobrir boa parte deste adicional, evitando que no próximo ano o aumento seja muito grande, ou seja, o consumidor vai antecipando o pagamento da energia mais onerosa.

Certajano – Haverá impacto em relação ao fornecimento de energia elétrica aos cooperados da CERTAJA? Por quê? 

Ederson – A CERTAJA Energia adquiriu sua energia, através de uma chamada pública, até 2039, ou seja, estamos com energia garantida por este período, por um preço bem abaixo dos praticados atualmente. Este benefício está sendo integralmente repassado aos Cooperados, isto pode ser observado nos dois últimos anos onde tivemos redução acumulada na tarifa na ordem de 11%. No entanto, as bandeiras são pagas por todos os consumidores brasileiros, pois serve para cobrir os custos excedentes. Desta forma, nosso cooperado, como todo brasileiro, é impactado pelas bandeiras.

Certajano – Qual é a importância do acordo de compra de energia elétrica no Ambiente de Contratação Live para os próximos 17 anos, realizado pela CERTAJA, para a composição de uma tarifa menor para os associados? 

Ederson – Esta compra foi muito importante para os cooperados, pois nos deixou com tarifas na ordem de 19% mais baratas que o das supridoras locais. Isto foi economia real na conta de energia. Infelizmente esta crise hidrológica impactou as contas dos Cooperados com esta cobrança adicional, que é temporária, felizmente. Caso não tivéssemos procurado esta alternativa de compra mais barata, o cooperado estaria com a conta final mais alta.

Certajano – Que alternativas de geração de energia estão presentes no cenário brasileiro e de cooperativas como a CERTAJA, especificamente? 

Ederson – Vê-se grandes investimentos em energia eólica e solar, por diversas características técnicas. No entanto, esta energia possui uma variabilidade muito grande, não podendo ser prevista com precisão, tão pouco controlada. Com isto, é necessário energia firme que possa ser acionada instantaneamente quando for preciso. Esta energia de base deve ser obtida de usinas hídricas ou térmicas, com valores mais elevados. A complementariedade de fontes é o ideal, para que crises hídricas sejam mais facilmente contornadas, o que determina a necessidade de mais usinas hídricas com reservatórios e mais usinas térmicas.

 Certajano – Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado? 

Ederson – A CERTAJA Energia está constantemente planejando seu sistema elétrico e suas fontes de energia, de modo a buscar eficiência e qualidade. A garantia de energia para o futuro, bem como valores competitivos, trazendo redução na tarifa, é uma constante em nossas ações. O cooperado pode ter certeza de que estamos atentos, buscando as melhores alternativas viáveis para que nosso futuro seja iluminado.