Em dois anos, Deisi Moura, nome à frente da Hortifruti Moura, dobra produção de morangos, amplia área plantada e investe em novos serviços ao consumidor, como delivery e sistema “Colhe e Pague”

No mercado da agricultura familiar de Tabaí, a Hortifruti Moura é uma referência. Porém, poucos sabem que por trás da jornada de sucesso do jovem empreendimento está uma “patricinha da cidade”. Afinal, é assim que a própria Deisi Moura, nome à frente do Hortifruti, se reconhece quando olha para sua história. Tanto é que a mudança definitiva de perfil foi consolidada em 2017, quando ela participou de um curso promovido pelo Sindicato Rural de Taquari, com apoio da CERTAJA Energia.

Criada em Canoas, na Região Metropolitana, Deisi chegou a Taquari no fim da adolescência e há 16 anos se mudou para Tabaí, quando se casou. E esse movimento proporcionou a primeira surpresa: enquanto sua experiência com produtos orgânicos era de comprar em um local, a maioria dos vizinhos, literalmente, os colhiam no jardim. “No interior, toda casa tem um pé de bergamota. Enquanto eu crescia, se quisesse bergamota, tinha que comprar no mercado”, conta com bom humor.

O empreendimento começou a ganhar vida há cinco anos. Na época, insatisfeita com o ambiente de trabalho, Deisi viu no convite para participar do curso promovido do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) em parceria com a CERTAJA Energia uma oportunidade de tirar do papel o desejo de empreender. “Quando fiz o curso de Hortaliças, todo mundo dizia que não valia a pena porque toda casa tem plantação. Os responsáveis pelo curso me mostraram caminhos diferentes, que permitiram consolidar esse projeto”, explica.

O passo definitivo foi o início da produção de morangos, a partir de 2019. Após novo curso, Deisi decidiu investir na fruta e, para isso, captou recursos junto ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e construiu duas estufas. “No primeiro ano, foram três mil pés de morango. No segundo, já foram sete. Hoje, temos um giro muito grande, com clientes que vêm de longe para adquirir os produtos. Inclusive, entregamos em alguns locais na Região Metropolitana”, conta Deisi.

Jornada de sucesso

Há três anos, a Hortifruti Moura é uma das responsáveis pela merenda escolar de Tabaí, depois de participar do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e há dois meses está colaborando com as merendas estaduais. Além disso, a produtora atende mercados locais e começou um investimento em delivery, que traz também um desafio: a disponibilidade de produtos. “O cliente quando pede, quer que seja entregue sua demanda. E, a depender do cenário, pode não ter determinado item à disposição na hora. Isso é algo que precisamos ainda evoluir como sistema”, avalia.

Este é um cenário complexo, mas também com diversos potenciais. Um exemplo é a valorização do ecossistema de produção local. Segundo Deisi, é comum os vizinhos trocarem produtos a fim de completarem os pedidos encomendados. Por exemplo, para fechar um pedido de alface, a depender do contexto do clima, é preciso pegar “emprestado” com um vizinho uma certa quantidade e depois devolver em outros produtos que vão ajudar ele a completar a sua entrega.

Para atender a crescente demanda, Deisi projeta aumentar a produção até o fim de 2022. Segundo ela, a propriedade de três hectares conta hoje com 12 mil pés de plantação – cerca de um hectare. O objetivo é fechar o ano com aproximadamente 25 mil. “Estamos construindo os novos canteiros e a expectativa é positiva. Temos que lidar com as intempéries do clima, mas estamos otimistas que vamos conseguir executar o plano e já ter o resultado disso logo”, explica.

Consolidação de um sonho

Mais do que uma evolução pessoal e familiar, o crescimento da Hortifruti Moura também é um elemento que contribui para o crescimento da região. Inclusive num aspecto que tem sido alvo de debates e investimento: o turismo rural. Isso porque um dos serviços à disposição do consumidor que Deisi desenvolveu é o Colhe e Pague, um formato de interação, que permite que o cliente, literalmente, colha o produto que vai adquirir e consumir.

“A ideia não é ‘receber’ os turistas, mas, sim, aprender com os grupos que abordam o tema, participar dos cursos e aprender elementos importantes, como atender os clientes, apresentar um trabalho bonito e conseguir explicar cada detalhe. O objetivo é proporcionar uma experiência e gerar um impacto positivo nos clientes”, analisa Deisi.

Esse olhar para o futuro também caminha ao lado de iniciativas sustentáveis que estão consolidados em seu processo produtivo, como o desenvolvimento de produtos biológicos. “Tudo que eu planto está enquadrado como biológico. Ainda que mais trabalhoso, prefiro não usar agrotóxico de olho no exemplo e na saúde das pessoas. Tenho uma filha de três anos que pode andar pela propriedade e comer do pé. Isso seria impossível com o uso de agrotóxico”, conta.

O crescimento tem gerado boas dores de cabeça a Deisi, que diz ainda estudar quais serão os próximos investimentos. Contudo, está convicta de que coisas ainda melhores estão por vir. “Tudo aqui já foi um sonho. Quando tu realizas o primeiro sonho, consegue dar o primeiro passo, vê que aquilo não é mais impossível, aí consegue sonhar com outras coisas. Venci uma vez. Não tenho mais medo de correr atrás”, conclui.